Sutil Intolerância – Marília Constantino

mariliaEventualmente, notícias que tem mulheres como vítimas de crimes bárbaros nos chegam e chocam pela televisão, como aquele ocorrido há alguns dias em Campinas. As poucas notícias, contudo, não revelam nem um terço de todos os crimes cometidos contra as mulheres no Brasil e também no mundo.

Ao contrário. A tímida abordagem do tema não evidencia a redução de práticas abusivas de gênero, indica apenas a prática velada deste tipo de conduta e reforçando um consenso geral de que a violência e preconceito de gênero não mais existem. Ledo engano.

É essencial que a atenção de todos seja chamada para as brutalidades, mas o que realmente não se pode perder de vista é a contribuição diária de cada um para a prática desses crimes. Sim, somos, em grande parte, cúmplices desses delitos, porque alimentamos sutil e diuturnamente dentro de nossas casas o preconceito e segregação.  Quem nunca contou ou achou graça numa piada sobre aquela loira burra na presença dos filhos? OU sobre como os deveres da mulher são o tanque e pia? E a crítica sobre aquela moça que sem roupa, mereceu ser estuprada? Ou sobre a secretária? Quem nunca?

Pois é. Foi assim que o preconceito seja pelas mulheres ou outras “minorias”, como são chamadas, perdurou, passado hereditariamente, de geração para geração. Aliás, a rotulação de seres humanos no diminutivo já denota o preconceito talhado com maestria e a conta-gotas.

A criação de Leis, como a Maria da Penha, são um avanço para alcançar a almejada proteção. Em contrapartida a ineficácia dos meios Estatais para sua aplicação e a ausência de conscientização dos cidadãos nesse sentido, contribuem para a punição perene da mulher.

O subjugo e o ódio das mulheres, dos negros, das pessoas com deficiência, dos homossexuais e tantas outras diversas “minorias”  é como uma semente semeada e regada aos poucos, até florescer, com suas próprias mãos.  E não há necessidade de se tornar um(a) ativista para refrear, de uma vez por todas com as agressões bárbaras ou sutis, noticiadas ou não pela televisão; é suficiente que se aplaque a condescendência com o preconceito, o ódio, a segregação, ceifando-os do quotidiano e consequentemente da formação de filhos e filhas. Somente desta forma, ao final da plantação, a colheita será de rosas e não de espinhos.

 

Marília Constantino V. Polverel

Diretora da 12a. Subseção OAB/SP