DESAFIOS DO JOVEM ADVOGADO

Por Guilherme Rodrigues da Silva

“Tornar-se é diferente de ser”

             Terminar a faculdade de direito, estudar muito, ser admitido no exame nacional da ordem, e finalmente tornar-se um advogado está muito longe daquele sonho de sê-lo. Essa é a triste realidade que todo jovem advogado encontra logo no início da carreia, com raras exceções, óbvio. Foi-se o tempo em que as faculdades de direito tinham suas cadeiras ocupadas somente por herdeiros jurídicos.

O sonho de ganhos extraordinários, casos de expressão midiática, o charme que envolve a advocacia e todos os demais adendos que representam a figura socioeconômica de um advogado está cada vez mais distante da classe. Esta figuração certamente é a que mais afeta o jovem, pois é desiludido não somente pela sociedade, mas principalmente pela própria família que espera ansiosamente o resultado pretendido.

Essa nova conjectura, aliada especialmente ao imediatismo dessa nova geração, confronta-se com o cotidiano ainda arcaico e moroso do Estado Brasileiro, do qual o Judiciário é apenas um de seus braços e onde mais atuam os advogados.

No início da carreira os jovens quase se aventuram, seja trabalhando para outros escritórios ou mesmo como autônomos, pois se angustiam com a realidade encontrada. Captação ética de clientela, falta de experiência, gastos excessivos com a manutenção do trabalho, pouco “networking“, baixas remunerações, calotes de clientes, e o tão almejado e ao mesmo tempo demorado resultado positivo em suas ações.

O infeliz resultado prático de tudo isso é a desvalorização, que leva à desistência de uns ou o aceite de condições não condizentes com a profissão por outros .  Mais uma vez o cenário se afunila e restam poucos protagonistas.

A luta por uma maior democratização das benesses advindas da profissão tem como consequência real a melhoria significativa das condições inicialmente encontradas, as quais se adequam e acalentam o jovem. Aliás, repercute positivamente em toda a advocacia, uma vez que o resguarda das extorsões do mercado, valorizando todos os atos da classe, assim como forma um profissional muito mais sólido e atuante.

O olhar sóbrio do jovem o ausenta dos vícios cotidianos tão arraigados na profissão e, consequentemente, desperta seu senso crítico e interesse de mudanças. Filhos de uma Constituição Federal também em fase de amadurecimento, deve fazer valê-la e sobrepor o direito em desfavor das mesmices do dia-a-dia e das trocas de favores, tudo com inteligência e conhecimento, sob pena de fazer parte do todo e nada mais poder reclamar.

 

Nos dizeres de Rui Barbosa em sua obra intitulada “Orações aos Moços”,  na qual dá conselhos e expõe sua convicção sobre o exercício da profissão aos formandos da turma de 1920  da Faculdade de Direito de São Paulo:

“Mas, senhores, os que madrugam no ler, convém madrugarem também no pensar. Vulgar é o ler, raro o refletir. O saber não está na ciência alheia, que se absorve, mas, principalmente, nas idéias próprias, que se geram dos conhecimentos absorvidos, mediante a transmutação, por que passam, no espírito que os assimila. Um sabedor não é armário de sabedoria armazenada, mas transformador reflexivo de aquisições digeridas.”

Diante dessa perspectiva resta ao jovem advogado entender o poder que tem em suas mãos e que mudanças somente ocorrerão se ele for realmente exercido. Cabe a ele demonstrar a classe e a sociedade que ser iniciante não é sinônimo de ingenuidade e desconhecimento. Ainda, que inexiste o imediatismo judicial, sonho este que deve ser buscado incessantemente, e que por mais difícil que sejam os caminhos a serem percorridos ao sucesso, ser advogado não é um mero trabalho. É, antes de tudo, ainda que as condições fossem positivas e que houvesse um apoio absoluto ao jovem, uma vocação.