Comissão da Verdade avança e já alcança resultados auspiciosos em seu segundo depoimento

Comissão terá como finalidade o resgate da história dos advogados e advogadas da nossa região que lutaram em defesa dos presos políticos, das liberdades democráticas e das prerrogativas profissionais, durante o período do Regime Militar

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O pior dos mundos para uma sociedade é a cortina do obscurantismo, os avanços democráticos de um país também dependem de encontro com o seu passado, com sua história passada a limpo. As comissões da verdade da OAB em todo o país têm prestado ao papel relevante de resgate da verdadeira história brasileira sobre os anos de chumbo da ditadura militar (1964-1985), onde foram cerceados as liberdades individuais, quando foram caladas instituições de ensino e a imprensa e banidos os partidos políticos e os eleitos pelo povo, e sobretudo, quando se praticou a tortura em nome de um estado arbitrário.

Depoimentos

Said Halahsaid

O primeiro depoimento, aconteceu no dia 13 de junho, na Casa da Advocacia. A Comissão da Verdade se reuniu para colher o depoimento do ex-presidente da OAB, Said Halah, perseguido e preso pela ditadura na época.

O presidente Halah relembrou fatos que marcaram sua vida e de seus familiares e fez uma ressalva aos trabalhos da comissão, que segundo ele, veio resgatar a história e faz uma contribuição que exalta os valores democráticos.

(entrevista de Said Halah https://www.youtube.com/watch?v=jZF7ykc4rbs)

 

maurina2Frei Manuel

Frei Manuel, que hoje vive em Uberaba (MG), esteve na Casa da Advocacia na tarde da última sexta-feira, dia 20, e em seu depoimento, negou o suposto estupro que madre Maurina teria sofrido e a respeito da vontade dela, todavia, disse à comissão que a madre sofreu muito assédio.
Segundo o presidente da Comissão da Verdade, Feres Sabino, a prisão da madre, fez com que o arcebispo emérito de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, iniciasse o combate ao regime militar.

O frei leu trechos de uma carta que a religiosa escreveu em 1970 ao cônsul geral do Japão em São Paulo, no qual acreditava que se houvesse julgamento, iria ser provada a inocência e serem mostradas as atrocidades cometidas pela ditadura.

 

Eduardo Silveira, membro da comissão, falou sobre o depoimento do frei: “O depoimento do Frei Manoel Borges da Silveira para a Comissão da Verdade foi emocionante, firme e contundente. O processo judicial da Madre Maurina mostra que os militares no poder promoveram a total subversão do direito. Trocada, contra a sua vontade, pelo consul japonês em 1970, sequestrado pelos guerrilheiros da VPR do capitão Carlos Lamarca, seu processo foi sobrestado até 1979, já tínhamos a Anistia, e a Madre, mesmo assim, foi julgada, para finalmente ser absolvida, para constrangimento de todos os envolvidos na sua prisão e tortura. Frei Manoel desmentiu o boato de que a Madre teria sido estuprada no prédio da atual Delegacia Seccional de Ribeirão, mas narrou em detalhes os constrangimentos sexuais por que passou, no que foi talvez o momento mais difícil da sua fala, para ele, para nós da Comissão e para a plateia. Mas na volta para Uberaba, disse a mim e ao Anderson Polverel (membro da comissão) que foi importante ter quebrado o silêncio de 45 anos sobre o assunto. Foi a primeira vez que alguém da sua família se manifestou a esse respeito. Questionado pela imprensa se também conseguiu perdoar, ele para e reflete por alguns segundos: “Acredito que não da mesma forma que minha irmã, a ditadura causou dor a muita gente inocente”, disse Silveira.

Instalação da Comissão

Todavia, mantendo-se como um dos pilares da vanguarda da advocacia paulista, a 12ª. Subseção da OAB/SP é a primeira subseção do interior a instalar uma Comissão da Verdade.

Ontem, 03 de junho, às 19h30, na Casa da Advocacia de Ribeirão Preto, aconteceu a cerimônia de instalação e posse dos membros da Comissão da Verdade da 12ª Subseção da OAB/SP, que tem como finalidade o resgate da história dos advogados e advogadas da nossa região que lutaram em defesa dos presos políticos, das liberdades democráticas e das prerrogativas profissionais, durante o período do Regime Militar.

Compuseram a mesa de instalação o Presidente Domingos Stocco e os diretores Fabio Esteves de Carvalho, Renata De Carlis Pereira, Glauco Polachini Gonçalves e Valdez Freitas Costa; Sylvio Ribeiro de Souza Neto representando o Poder Judiciário, o presidente da AARP (Associação dos Advogados de Ribeirão Preto) Sérgio Oliveira Dias; a prefeita Dárcy Vera; e o vice-presidente da Comissão da Verdade OAB/SP, Belisário dos Santos Júnior.

Uma das premissas da Comissão é deixar registrado para as futuras gerações o legado de coragem e dignidade dos profissionais do direito na resistência à tortura, aos Desaparecimentos, à suspensão e violão dos direitos fundamentais do povo brasileiro que ocorreram neste momento sombrio da nossa história.

A referida Comissão foi nomeada com a seguinte composição: Presidente, Feres Sabino; Secretário, o jornalista e advogado Rubens Zaidan; Membros, o jornalista Saulo Gomes e os advogados Anderson Romão Polverel e Eduardo Silveira Martins, Coordenadores, respectivamente, das comissões de Direitos Humanos e de Comunicação da 12ª Subseção da OAB/SP.

Em seu discurso o presidente Feres Sabino deixou explícito que a Comissão da Verdade da 12ª. Subseção não é movida pelo revanchismo ou ódio, contudo, pelos nomes que a compõe será preservada a isenção dos fatos, todavia, fez menção a torturadores e torturados: “ …a tortura desumaniza o torturado, mas apodrece o torturador….”, disse.

O presidente Domingos Stocco ao final do evento histórico, disse que, “…é importante que sempre falemos da ditadura, simplesmente para que ela nunca mais volte”, finalizou.